sábado, 6 de janeiro de 2018

A literatura como formação política do indivíduo



O romance, segundo o filósofo György Lukács, é o gênero literário que melhor exprime as contradições da moderna sociedade burguesa. Seguindo princípios hegelianos, Lukács classifica o romance como "epopeia burguesa", em uma bem sucedida tentativa de afirmar que ele tem a mesma importância para a sociedade moderna que os poemas homéricos tinham para as sociedades antigas. Para Lukács, a principal diferença é que as vozes dos heróis dos poemas épicos representavam, em uma era pré-capitalista, a conjuntura da sociedade como um todo, enquanto no romance, forma literária que melhor conseguiu exprimir a desintegração do organismo feudal e sua subsequente transformação em uma sociedade dividida em classes, o caráter prosaico da vida burguesa moderna vem à tona quando o personagem finalmente deixa de ser um indivíduo coletivo -- como Aquiles e Eneias -- para se tornar representante de sua própria luta individual, completamente emaranhado em conflitos sociais.

Nós, membros da Dissidência política do DF, acreditamos que a leitura literária é fundamental na formação política do indivíduo e é, sim, ferramenta revolucionária de grande valor. Nossa luta, dentro da perspectiva política, é contra os sórdidos valores da sociedade burguesa, que em essência são contrarrevolucionários, portanto é execrável a atitude de não penetrar, através da leitura, em suas dinâmicas e conhecer a dialética de suas conexões sociais mais profundas, o que só é possível em absoluto através do conhecimento do registro literário feito pelos escritores. São eles que, através dos conflitos internos de seus personagens, conseguem transmitir o zeitgeist de maneira mais precisa para a posteridade.

Nem só de tratados de economia e sociologia vive o militante. Engels chega a afirmar sobre Balzac (escritor que na opinião dele e de Marx foi o que mais soube expor com precisão as forças motoras do mundo burguês), que em suas obras era possível aprender mais sobre os pormenores econômicos da organização social de seu século do que "em todos os livros de historiadores, economistas e profissionais da estatística da época". Ou seja, Engels dizia que aprendeu mais sobre o capitalismo lendo os romances de Balzac do que lendo os acadêmicos!

Não é de interesse da mídia globalista divulgar informações como essa, já que quanto mais ideologicamente cega for a a massa, mais fácil é dominá-la. A indústria cultural e a sociedade de espetáculo destroem tanto a cultura popular e tradicional quanto a literatura e a arte eruditas, substituindo-as pela arte-mercadoria, pelo entretenimento.

Para lutar contra os valores contrários aos princípios revolucionários é preciso conhecê-los a fundo e não há maneira mais eficiente do que a leitura dos livros e romances que eternizaram em suas páginas os conflitos em essência mais profundos que expõe a degradação, a mesquinhez e a mediocridade da abjeta burguesia liberal. Um romance de Balzac, de Dostoiévski, de Dickens, de Lima Barreto, de Machado de Assis, ou um poema de Ezra Pound, é um documento da mais alta relevância a ser com cuidado lido e estudado como uma análise microscópica da realidade social. O personagem Scrooge, de Charles Dickens, é um espelho da realidade, tanto quanto o Capital ou Der Bourgeois (de Sombart)!
Mais do que isso: acreditamos no potencial catártico da literatura, no sentido de alargar os horizontes de quem lê; acreditamos no potencial transformador da arte e da literatura, como forças humanizadoras. Num mundo ocidental desencantado e fetichizado, a arte e a literatura têm potencial de maximizar a percepção das experiências pessoais e aumentar de maneira significativa a sensibilidade social dos indivíduos.

Ler é um ato revolucionário!

A dissidência política do DF defende que a leitura e a discussão de romances se faz absolutamente necessária para compreensão mais elevada do fenômeno social.

Sem leitura não há revolução!

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